Abençoada ignorância
Ela fez-te feliz. Deixou-te vaguear por este mundo fora à descoberta de conhecimentos que não te deixou aprofundar, deu-te livros para ler e filmes para ver sem te dar que pensar, deu-te memórias desinfetadas de introspeção, deixou-te adormecer assim que caías na cama e não te obrigou a planear. Ela fez-te confiante. Com ela querias ir mais longe, saber mais e mais sobre um assunto sem te questionares porquê nem para quê. Afastaste-a aos poucos. Foste deixando de querer aproveitar o mar simplesmente porque é o mar, e o céu porque é o céu. Foste largando a sua mão quando procuravas o conhecimento, agora aprofundado, das coisas. Foste-te esquecendo dela porque o novo mundo de pensamentos te fascinava. Afinal, pensar um pouco sobre tudo era bom. Ela desistiu. E ficaste na solidão de um quarto vazio de tão cheio de sobreposições entre reflexões sem fim. Procuraste-a para fugir às horas em que estavas indeciso entre escolhas, quando acabava...