Contadora de histórias
Que confusão. Sinto a minha mente a correr. Com este livro à cabeceira, tenho uma ânsia de escrever palavras que temo que nem me pertençam. Desassossego-me. Já dizia o outro. Quero escrever sem sentido, porque isso já pouco me importa, quero apenas poder folhear o caderno preto e saber que está todo escrito, para recomeçar noutro qualquer. Quem me dera escrever histórias, encher páginas com nomes que se reconhecessem entre capítulos, quem me dera fazer sentido em vez de ser só umas quantas páginas soltas e esquecidas numa gaveta. Confundo-me cada vez mais... Talvez... uma viagem de comboio? Não, muito clichê. Uma casa no campo? Com certeza que já foi feito. Uma bicicleta. Sim. Uma bicicleta com uma fita vermelha, que a avó lhe deu, a avó contadora de histórias que um dia se sentou na sombra do chorão e o viu a subir a colina com olhos húmidos. Um dia contou-lhe que a maior parte destas narrativas antes eram aperfeiçoadas pela mão do avô, mas que agora ela tentava o melho...