Coração
O coração não parte, o coração só rasga. Só não sei se rasga por não saber partir Ou pelo jeito de quem lhe pega. Mas o que rasga só se conserta cosendo, E o que se cose pela segunda vez nunca fica igual à costura inicial. A bainha fica mais curta num lado e comprida do outro, Porque a mão humana não sabe desenhar sem sair fora das linhas. Então há sempre parte do coração que fica escondida por entre as costuras, Parte do coração que um dia esteve vivo e irrigado E que agora é apenas um pedaço de pano morto, Pano perdido e inútil, Puramente a ocupar espaço que não se vê. Um pano por ressuscitar, Se alguém um dia procurar o que entre os fios está oculto, Se alguém um dia, Com o cuidado limitado da mão humana, Levantar pedaço a pedaço À procura do que encaixava inicialmente e entretanto se remoldou. Se alguém encontrar algum sentido Por entre as fibras que um dia se inquietaram E que agora estão negras, sem vida. Mas, voltando, o que dizem as fibras? Não voltam assim. Voltam desconc...