Estou farta de ti.

Estou farta de ti. Isso mesmo. Já não aguento mais isto.
Escrevo-te hoje, porque não aguento mais ver-te todos os dias e ter de aguentar com o que tens a dizer (e tens SEMPRE algo para dizer). Porque é que tens sempre de comentar tudo? Deixa as tuas opiniões para ti, porque eu já não quero saber. Houve uma altura em que te ouvia com atenção, mas isso acabou quando deixaste de ouvir o que eu tenho para dizer.
Enquanto te escrevo, estou a ver uma fotografia nossa, que cuidadosamente guardei numa moldura encarnada. Foi tirada há muito tempo, quando ainda estava tudo bem. Antes, adorava-a, mas agora detesto olhar para ela, olhar para ti. O problema é que, mesmo que não te veja, estás presente em todo o lado e isso irrita-me profundamente.
Não suporto a forma como me fazes sentir tão pequena. Tens esse poder, sempre o tiveste, desde que te conheci. Gostas de te sobrepor a mim, de ser maior e mais importante. Gostas que os outros te tratem como um ser superior que tem razão em tudo o que diz. Mas digo-te uma coisa: não tens. Aliás, a maior parte das vezes não tens o mínimo de razão, mas desde que tu aches que sim, continuarás a afirmar o teu ponto de vista.
Se eu digo não, tu dizes sim, claro. Se eu te digo que não quero falar sobre isso, é aí que começas a insistir. Se te digo que já segui em frente, só me falas de como éramos antes. E quando atinjo o limite e te expulso do meu pensamento, tu voltas.
Para. Já chega. Sai.
Preciso que saias, porque não aguento mais. Deixas-me acorrentada e obrigas-me a fazer o que queres, a ser quem não sou. Tens de parar de falar em meu nome e de me insultar como tens feito tantas vezes. Adoras pegar na minha autoestima e brincar com ela a teu gosto. Desde que chegaste, não tens feito outra coisa.
Deixa-me em paz! Não tens de gostar, mas se não gostas então sai! Quem te obriga a ficar?
Bem sei que, no início, não eras assim. Mudaste. Mudaste mesmo muito. Já nem te reconheço quando olho para ti. Parece que, desde aquele dia, uma revolta te consumiu lentamente, revelando esse monstro em que te tornaste. Como consegues desligar-te do mundo tão facilmente? Como consegues magoar tanto? Não pensas em ninguém além de ti. Mas se queres ser assim, podes sê-lo sem mim, porque eu não tenho de ser arrastada contigo. Já fizeste o suficiente.
Chega. Estou farta que controles a minha vida. Já não aguento mais essa tua omnipresença.
Não consigo conter a raiva: pego na moldura e parto-a com a palma da minha mão. Quando dou por mim, o sangue começa a gotejar nos pedaços do espelho partido no chão. E claro, mostra-me o teu reflexo.

Comentários

  1. Espero que verdadeiramente essa pessoa nao exista nunca na tua vida.
    Mais um texto estranho...perturbador.... quase que todos podemos sentir o mesmo, identificar alguém assim.
    Muito bom. Gostei. Simplesmente... deixa para trás quem te faz sofrer e nunca te prendas a quem te quiser prender.

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