Numa só palavra

Um dia pediram-me para me descrever numa palavra. Nunca gostei destas coisas, porque nunca soube o que dizer...
Pensei em mim própria e na minha
maneira de ser, na forma como falo, reajo e concretizo, separando-me dos
outros. Queria descrever-me como eu e
não como quem sou com os outros, ou o que pareço ser. Porque esse é um
problema: pensar em mim como ser único e isolado. Quem seria se não tivesse
ninguém à minha volta? Aliás, quem sou quando a minha única companhia são os
meus pensamentos…?
Com o tempo, vim a perceber a verdadeira dificuldade da resposta a
esta pergunta. Eu não sou apenas eu. É verdade, por mais que queira
conhecer-me, não o conseguirei. Eu sou tudo aquilo em que toco, todos aqueles
com quem falo e tudo o que ajudo a construir. Eu sou os projetos em que
participo, eu sou os sorrisos que crio nos outros.
Mas eu também sou o que não
faço. Sou tudo aquilo que ignoro e tudo o que deixo no silêncio. Sou as
lágrimas que provoco, os pilares que não ergo e que destroem, a ajuda que deixo
para o dia seguinte. Eu sou muito além de mim.
Abre-se outra porta: quem sou eu se ignoro a tortura de terceiros,
se não me insurjo contra injustiças que, por sorte, não se aplicam a mim?
...
Todas estas pessoas também somos nós. Estas tragédias são nossas. Estes
projetos são a Humanidade.
Não posso ignorar, se faz parte de mim. Não posso
habituar-me, se ainda me revolta. Não baixo os braços, porque neles há a força
da mudança, sentida em cada um de nós.
Hoje pediram-me para me descrever numa palavra. Sorri, confiante, e respondi:
Hoje pediram-me para me descrever numa palavra. Sorri, confiante, e respondi:
"Eu sou o mundo."
"Eu sou tudo aquilo em que toco, todos aqueles com quem falo e tudo o que ajudo a construir. Eu sou os projetos em que participo, eu sou os sorrisos que crio nos outros."
ResponderEliminarMuito verdadeiro o que escreves. Tens uma consciência forte de ti e do mundo. Somos realmente feitos de pedaços, de espelhos partidos, de sombras obscuras e segredos, de retalhos cortados à pressa, de lágrimas salgadas, outras doces.
De sonhos que apenas fazem sentido se carregarem com eles toda esta bagagem. "Um dia construirei um castelo", alguém disse.
Sim... carrega tudo o que és... e farás de ti uma fortaleza!
Mas leva um saco grande... ainda tens um logo caminho a percorrer!