"Tenho em mim tod[a a dor] do mundo"
Não sei o que é sentir uma dor até ao fim. Sinto que carrego comigo toda a dor que alguma vez senti. Parece que a cada vez que uma nova dor surge, todo o sofrimento anterior nela culmina e volta à vida. Sempre que algo me deita abaixo, sinto a agonia passada mais presente que nunca.
A dor cessa algum dia? Tenho a sensação que apenas acumula. Será mesmo possível ultrapassar a angústia, ou consiste em simplesmente ignorar, por vezes, que ela lá está?
Afinal, não é verdade que nos lembramos de todos os obstáculos que temos sempre que surge mais um? Porquê? Talvez eles não desapareçam, talvez fiquem apenas escondidos numa prateleira mais profunda.
Não esqueço. E não sei se gostava de esquecer... depende dos dias, das situações... mas sei que não esqueço. Se é atenuado? Sim. Se melhora com o tempo? Claro. Mas talvez “melhorar” seja apenas guardar longe da vista durante algum tempo, porque parece-me que inevitavelmente volto a esses assuntos e relembro o que não quero. Parece-me que tenho uma biblioteca reservada aos livros cujas páginas são constantemente preenchidas com os meus arrependimentos e desilusões.
Dói para sempre? Não sei. Depende do conceito de “dor”. Se dor significa sofrimento extremo, não. Mas se significa relembrar de forma sofrida, então sim. Por mais atenuado que seja, enquanto me lembrar, não o recordarei com um sorriso, se tanto me afetou.
Mas doer para sempre não implica que não seja possível seguir em frente. Implica que não esqueço. E se esquecesse, deixaria de ser quem sou.
Doer para sempre é viver na minha pele. Se deixasse de doer, não seria eu a sentir.
Muito bem. Dás boa voz àquela frase (que adaptei do que vi por aí) que me tem norteado de há uns tempos a esta parte: o que me preocupa é o que eu sei, com o que eu não sei estou muito bem. Ainda bem que manténs esta tua veia com arte. Bjs.
ResponderEliminar"Doer para sempre é viver na minha pele. Se deixasse de doer, não seria eu a sentir."
ResponderEliminarAbsolutamente fantástico e realista.
Carregamos realmente bibliotecas de sentimentos, que ao longo da vida vamos relendo. É certo que alguns pergaminhos deveriam ser queimados, mas sem eles como saberíamos os nossos erros e como poderíamos tentar fazer melhor? E sim…quando pensamos neles… na nossa cabeça são revividos da mesma forma, com a mesma dor ou angústia. Estranhamente, até os bons livros guardados nos dão uma nostalgia dolorosa… O que é atenua… o que é bom dá-nos a sensação de que nunca será tão bom.
Tem que doer… faz parte do caminho.