Esboço

Quero pintar-te, mas não sei se te quero sujar com a tinta da minha caneta. Tenho medo de errar os contornos e de pintar fora das linhas, medo de não acertar nas cores ou de não desenhar as ideias certas.
E se ficar diferente do que imaginei? Vou ter de esquecer o esboço e começar um novo, um que não sejas tu...?
Tentei pintar outras coisas e alguns dos desenhos que aqui tenho não foram propositados e, por mais que tente, não consigo livrar-me deles.
Talvez o meu maior medo seja já nem saber como se pinta... olho para estas folhas e vejo tantos erros, tantas linhas que tentei apagar, mas só fiz pior, tantas que nem deviam ter sido desenhadas...
Olha para mim. Deixa-me tentar registar a forma como olhas para mim (ou, pelo menos, a forma como eu o imagino). Deixa-me fazer o esboço acerca de como as nossas mãos se tocam e do quanto precisava que se tocassem. Deixa-me pintar o que eu imagino que poderíamos ser.
Talvez não deva pintar-te, talvez seja errado.
Devia pintar-me a mim e levar todo o tempo do mundo a acertar no padrão de cores que procuro, a aperfeiçoar o brilho da lágrima que sempre pende do meu ser. Talvez aí, o pincel colaborasse comigo.
Mas eu... eu não me vejo, não me sinto como te sinto a ti.
A tela já a tenho, mas falta-me a cor, porque estas são todas pretas e brancas, carregadas de tristeza pura.

Começo. Experimento, Gosto da forma como o lápis desliza na tela e se deixa seguir pelo pincel, escolhido a dedo. A minha mão treme, porque o medo de errar cá continua, o que me faz hesitar.
Talvez seja suposto eu errar.
Talvez a beleza do quadro seja a imperfeição do mesmo, pela realidade do representado com cores erradas e mal pintadas e com misturas aleatórias e sem sentido de estilos. Talvez o resultado final seja sempre um esboço inacabado e em constante alteração... ou talvez um esboço inacabado e abandonado por outra tela.
Quero pintar-te e quero que me pintes, mesmo que a tinta da tua caneta manche a minha tela e que erres todos os contornos, pintes fora das linhas com cores erradas e ideias das quais um dia te arrependerás. E espero que o faças com tinta permanente. Porque nestes esboços, nada é feito para se esquecer.
Começa. Experimenta.
E erra.

Comentários

  1. Acho que é nas imperfeições que reside a beleza de tudo.
    Pensa no que quiseres e retira aqueles pequenos defeitos, às vezes impercetíveis…
    Tira aquele verde…. que tão mal fica com o roxo…
    Tira aquele feitio…. estraga sempre tudo….
    Tira aquela palavra mal escrita…
    Tira aquela chuvinha que vai borrar a pintura já de si…. mal feita….
    Tira tudo o que é errado.
    Qual a piada do que fica?
    Ser perfeita?
    E??????

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