Silêncio desassossegado

O Sol está a pôr-se e eu aqui estou.
Parece que nesta hora final de luz tudo se torna mais presente e tudo vibra de existência.
Sento-me no chão e sinto o calor luminoso na pele.
Escuto.
O mar. As ondas. Tanto dançam, mesmo aqui ao lado. Nunca quietos, em constante mudança. Não há nada como o silêncio do oceano: é tão melódico. Não há um momento de pura quietude. Vejo um brilho imenso neste pensamento. Parece levar o que faz de mim quem sou, enquanto mo devolve no segundo seguinte.
Continuo a ouvir.
O vento. Passa por mim e leva-me as preocupações, seca-me as lágrimas, agita a essência do meu ser. O que faz o vento com o que leva de mim? Talvez o leve a outra pessoa que escute. Talvez me traga pedaços de outras mentes inquietas.
Asas. Algo voa, talvez sem rumo, talvez sozinho.
Abro bem os olhos e vejo.
A luz quente do Sol que tudo pinta.
O verde das árvores que me sussurra.
O azul do céu que sei que se funde com o do mar.
O meu reflexo nesta janela que me pede direções, perdido.
Estas páginas em branco ou em vão preenchidas.
Este chão onde me sento e me deixo ficar.

Esqueço tudo isto e sinto.
A tristeza das ondas do mar que eternamente procuram e nunca acham.
O escuro do céu que se vai despedindo do Sol, que sempre vai, por mais que volte.
A apatia das árvores, por quem o vento passa sem deixar nada.
A ignorância do vento, que tudo leva e nunca para nem descansa.
O vazio infindável destas páginas.
A fraqueza deste chão que há tanto tempo me segura.
O desconhecimento infinito do meu reflexo, preso a esta janela solitária.

Tento mais uma vez.
Deixo-me nadar nas ondas do mar.
Estendo a mão para que o vento finalmente me leve com ele.

Fecho os olhos com força.
Eterna inquietação.

Apercebo-me que ainda aqui estou.
Então escrevo.

Comentários

  1. Leio o que escreves e sinto-me tranquilo.
    Encontro paz na identificação da tua inquietude.
    Estás rodeada de mar, de vento e de existência que bailam à tua volta.
    Não estás só.
    Tens tanto sobre o que escrever!

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