Fio de mágoa
Estava
sentada à espera do metro. Rotina habitual.
Ao meu
lado estava uma rapariga com uma mochila e um livro na mão que parecia pesado.
Estava com fones nos ouvidos e parecia concentrada em tudo menos na música...
tinha um olhar distante, fixo em nada.
Tentei não olhar demasiado, não fosse ela reparar que estava a achar tudo aquilo um pouco estranho.
Passado uns minutos, reparei no que tinha ao pescoço: um fio. Se era prata, não sei e não importa, mas tinha duas peças penduradas. Não consegui ver bem o que eram, mas pareciam ser pequenas e cheias de significado. A rapariga olhava-as com toda a atenção do mundo, até ter pegado nelas e ter ficado a analisar todos os cantos que tinham. Sobrepunha-as com cuidado, para que encaixassem uma na outra e logo a seguir separava-as de novo. Enquanto o fazia, talvez inconscientemente, olhava para além delas e para além deste sítio. Pensava em mil coisas em simultâneo: revivia-as ou imaginava-as.
Doía-me olhar para ela. Não sei porquê, porque não a conhecia, mas havia qualquer coisa que me afetava.
Depois olhou em frente. Soube instantaneamente que, naquele momento, ouvia a letra da música que estava a ouvir. A melodia sussurrava-lhe notas de mágoa. Enquanto a ouvia, continuava com as peças na mão, tocando-lhes como se fossem memórias que não queria esquecer. Talvez fossem, pensei. Talvez lhe lembrassem alguém.
Via-a sorrir, ironicamente, enquanto olhou o chão, provavelmente a discordar da utopia que a música lhe dizia ser possível. Sorria de olhos fechados, como quem não tem mais nada a sentir além da resignação.
O sorriso desvaneceu de um momento para o outro.
Olhou as peças de novo e, de repente, puxou o fio com força e partiu-o, deixando-o cair no chão. Pareceu-me ver arrependimento, por um segundo, no seu olhar, mas logo depois levantou-se e dirigiu-se para a carruagem que acabara de chegar, sem eu dar conta, sem olhar para trás. Segui-a involuntariamente e sentei-me na mesma carruagem. Ela estava de costas para mim.
Vi no meu reflexo algo que reluzia: um fio ao meu pescoço, tão semelhante ao dela. Peguei nele e senti um aperto. Levantei os olhos para a ver mais uma vez, mas já lá não estava.
Agarrei no fio com força e entreguei-me à esperançosa ignorância.
Tentei não olhar demasiado, não fosse ela reparar que estava a achar tudo aquilo um pouco estranho.
Passado uns minutos, reparei no que tinha ao pescoço: um fio. Se era prata, não sei e não importa, mas tinha duas peças penduradas. Não consegui ver bem o que eram, mas pareciam ser pequenas e cheias de significado. A rapariga olhava-as com toda a atenção do mundo, até ter pegado nelas e ter ficado a analisar todos os cantos que tinham. Sobrepunha-as com cuidado, para que encaixassem uma na outra e logo a seguir separava-as de novo. Enquanto o fazia, talvez inconscientemente, olhava para além delas e para além deste sítio. Pensava em mil coisas em simultâneo: revivia-as ou imaginava-as.
Doía-me olhar para ela. Não sei porquê, porque não a conhecia, mas havia qualquer coisa que me afetava.
Depois olhou em frente. Soube instantaneamente que, naquele momento, ouvia a letra da música que estava a ouvir. A melodia sussurrava-lhe notas de mágoa. Enquanto a ouvia, continuava com as peças na mão, tocando-lhes como se fossem memórias que não queria esquecer. Talvez fossem, pensei. Talvez lhe lembrassem alguém.
Via-a sorrir, ironicamente, enquanto olhou o chão, provavelmente a discordar da utopia que a música lhe dizia ser possível. Sorria de olhos fechados, como quem não tem mais nada a sentir além da resignação.
O sorriso desvaneceu de um momento para o outro.
Olhou as peças de novo e, de repente, puxou o fio com força e partiu-o, deixando-o cair no chão. Pareceu-me ver arrependimento, por um segundo, no seu olhar, mas logo depois levantou-se e dirigiu-se para a carruagem que acabara de chegar, sem eu dar conta, sem olhar para trás. Segui-a involuntariamente e sentei-me na mesma carruagem. Ela estava de costas para mim.
Vi no meu reflexo algo que reluzia: um fio ao meu pescoço, tão semelhante ao dela. Peguei nele e senti um aperto. Levantei os olhos para a ver mais uma vez, mas já lá não estava.
Agarrei no fio com força e entreguei-me à esperançosa ignorância.
Mais um pedaço de vida refletida em ti.
ResponderEliminarMais um olhar atento ao que te rodeia.
Mais um pouco de ti mesma.