Too late

A primeira vez que peguei neste caderno preto foi há pouco mais de 5 anos. Foi a altura em que pensei que talvez devesse "escrever" de forma mais real.
As palavras que escrevia, na altura, falavam-me em inglês. Que coisa estranha. Não percebo porque é que pensava comigo noutra língua que não a minha, mas é verdade. Mais estranho ainda é que já tentei traduzir-me para português, mas os textos ficaram absolutamente vazios de sentido. Espero que os grandes escritores nunca se leiam em estrangeiro, porque realmente não condiz com nada.
Ainda tenho, perdidos por aí, ensaios aleatórios e páginas de livros que imaginei, quando de repente me via a saber contar histórias. Gosto de pensar nessas vitórias inacabadas como a minha própria arca pessoana; torna tudo mais interessante, no meio da sua insignificância.
Quando, pela pura curiosidade que em mim brotou, a medo, deixei escapar palavras portuguesas desta caneta, já não escrevia há meses, e as razões bem sei eu. Há momentos em que o pensamento se entorna de nós, e a minha silhueta muda se tinha tornado.
A partir desse momento, nunca mais me despersonalizei noutra língua (só na minha própria) e deixei de saber ler-me antes. Nada do que escrevo (ou a maioria) faz sentido quando leio, mas não me reconheço em nada que esteja em inglês. Não sou eu.
Curioso é ver que as últimas palavras deste meu período literário (tenho direito a arca pessoana, tenho direito a isto, deixa-me!) são a simples frase "But it's too late". Será que eu sabia? Lembro-me como se fosse ontem de olhar para a folha, enquanto esperava por algum sinal em contrário (que, eventual e estranhamente, chegou).
E, de repente, aventuro-me, na página seguinte, por uma cascata desconhecida. "Falas comigo como se nada fosse, e eu falo contigo tentando fingir que não é nada." Para mim, intemporal. Esse ficou também vincado em mim. Talvez por ter estado mais de uma hora com medo de não saber escrever do coração, talvez por outro motivo.
Folheio o caderno e sorrio com a minha ingenuidade. Que estupidez pensar que é engraçado citar-me e olhar-me, de fora.

Olha, menti, Apercebi-me que, afinal, escrevi mais um impossível de traduzir. Só 3 frases que, azar das sortes, até fazem sentido. Depois disso, só voltei passados muitos meses. Não sei o que isto significa, além do que sei que significou. Acho estranho.
Enfim, continuemos.

Comentários

  1. Que deliciosa autoanálise e reflecção sobre ti mesma!
    A tua escrita cresceu, segue um caminho…
    Possivelmente irás sorrir mais tarde pelos estes teus passos de agora. Tenho a certeza que irás chegar a algum lado…

    Sortudos os que te acompanham nessa jornada!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Coração

Hoje vou morrer

Ouve