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A mostrar mensagens de agosto, 2018

Esboço

Quero pintar-te, mas não sei se te quero sujar com a tinta da minha caneta. Tenho medo de errar os contornos e de pintar fora das linhas, medo de não acertar nas cores ou de não desenhar as ideias certas. E se ficar diferente do que imaginei? Vou ter de esquecer o esboço e começar um novo, um que não sejas tu...? Tentei pintar outras coisas e alguns dos desenhos que aqui tenho não foram propositados e, por mais que tente, não consigo livrar-me deles. Talvez o meu maior medo seja já nem saber como se pinta... olho para estas folhas e vejo tantos erros, tantas linhas que tentei apagar, mas só fiz pior, tantas que nem deviam ter sido desenhadas... Olha para mim. Deixa-me tentar registar a forma como olhas para mim (ou, pelo menos, a forma como eu o imagino). Deixa-me fazer o esboço acerca de como as nossas mãos se tocam e do quanto precisava que se tocassem. Deixa-me pintar o que eu imagino que poderíamos ser. Talvez não deva pintar-te, talvez seja errado. Devia pintar-me a m...

Banquete de Distância

Quilómetros. Esses que sempre chegam e que me afastam de quem quero manter por perto. Esses que me separam eternamente de onde quero estar. Se te quero aqui, empurram-te para longe. Se me quero longe, amarram-me aqui. Com eles, trazem a velha Despedida, que há vários anos tento evitar. Parece sempre difícil escolher entre cruzar-me com ela ou com o Arrependimento, que pode sempre decidir aparecer sem aviso. Nunca sei se prefiro oficializar a partida ou se quero apenas fingir que não me apercebi que finalmente chegou. Sorrisos de aventura; lágrimas pulsantes. E é então que a Distância finalmente assina a folha de presenças, com o seu brilho nos olhos habitual. Às vezes vem quando está a chover, e tudo parece mais sonoro, mais fatídico, mais musical. De mão dada com ela, vem a Solidão, com o olhar cabisbaixo e a tremer enquanto ajeita o cabelo com a mão livre. Todos se juntam à mesa para o grande banquete: a Distância senta-se à cabeceira, roubando o lugar destinado à Felicidade,...

Ainda te culpo.

Sei que não é verdade, mas ainda te culpo. Tento não o fazer, porque sei que também saíste magoada... mas preciso de materializar a culpa em alguém e, inevitavelmente, és essa pessoa. Sim. Culpo-te.  Por me teres deixado sem nada, por te teres fechado no teu próprio mundo,  por te teres esquecido de como se ama. Levaste tudo o que era de meu e eu fiquei aqui vazio, inexistente, inexpressivo. Não me compares a ti, porque não fazes ideia do que foi... do que é. Que me importa se sigo em frente, se não sais de mim?  Hoje, dóis-me. Tal como me doeste ontem e todos os outros dias. Custa-me saber que nem tempo tens para digerir o que aconteceu, para eu te doer. Bem sei que, quando tiveres tempo, tudo vai abater sobre ti, mas a culpa é tua: sempre tiveste essa teimosia de esconder tudo e evitar sentir o que quer que seja, talvez pelos outros, talvez para tentar aproveitar o sorriso falso que tentas pôr, mas que a mim não me engana. Na verdade, nunca enganou. Não me p...